sábado, 22 de janeiro de 2011

HOMENAGEM A UM GÊNIO SEM GLÓRIA

          Nascido em Porto Alegre, Roberto Landell de Moura realizou um dos maiores feitos da ciência brasileira ao transmitir, a uma distância de oito quilômetros, sua voz, entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, em São Paulo.
          Não foi só a transmissão de voz via ondas eletromagnéticas o grande feito de Landell, ele também descobriu que os corpos dos seres vivos são circundados por um halo luminoso, conseguindo fotografar essa luz. Trinta e dois anos depois, um casal soviético descobriu o mesmo fenômeno, que passou a ser chamado efeito Kirlian (em homenagem ao sobrenome do casal) ou bioeletrografia. Mais uma prova do esquecimento dos inventos de nosso gênio conterrâneo. Gênio, isso mesmo, pois aos desesseis anos construiu um aparelho telefônico (apenas um ano depois de Graham Bell), sem ao menos conhecer o aparelho do inventor do telefone .
          É esquecido, também, pela invenção do rádio, pois a História atribui esse invento a Marconi. A grande "confusão" entre Landell e Marconi é que o italiano inventou a radiotelegrafia: transmissão de código morse sem fio. Com um aparelho totalmente diferente, é bom destacar isso, Landell transmitiu nada mais do que a voz humana pelo rádio, a radiotelefonia. Mesmo assim, quem ficou conhecido como o inventor do rádio, que ninguém imagina como um aparelho transmissor de código morse, foi Marconi.
          No dia 21 de janeiro de 2011, foi comemorado o sesquicentenário do nascimento de Landell de Moura. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) lançou um selo comemorativo a esses 150 anos, uma homenagem a esse gênio gaúcho, brasileiro. Nós do Clube de Radioamadores do CMPA também fazemos nossa homenagem a esse notável brasileiro, nossa sala de atividades chama-se SALA RÁDIO PE. LANDELL DE MOURA.
          O Brasil não é, nunca foi, e nunca vai ser inferior aos países desenvolvidos em relação à Ciência, Landell de Moura é uma prova disso. Esse padre, que tentou unir Ciência e Religião, continua até hoje inspirando a arte do Radioamadorismo.
landel_de_moura selo_RLM rodada Landell de Moura
Fontes:http://www.nossasenhoradobrasil.com.br/correios-homenagearao-padre-inventor-do-radio.html / http://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Landell_de_Moura / Jornal Zero Hora, sábado, 15 de janeiro de 2011.

Vanderlei Amaral

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

AS PERIPÉCIAS DE UM GAROTO ESTRANHO

UMA OPERÁRIA A MENOS
          Deodor sempre foi visto como o mais estranho entre seus iguais (ele é uma pessoa, aos poucos eu descobri isso) , aliás, não havia ninguém igual a ele.

          Quando era criança costumava fazer pequenos hospitais para insetos que estavam morrendo (a maioria das vezes ele mesmo causava isso) , e ficava o dia todo trabalhando na recuperação dos pobres animais. Mas agora a história é sobre um desses animais, apenas. A história vai parecer um pouco infantil, mas é porque Deodor era infantil (ou é, não sei, depende) . Um dia, na 2° série, achou uma abelha morrendo dentro da sala de aula e tratou logo de socorrê-la. Não escutou uma só palavra do que a professora dissera durante a aula, e no recreio aproveitou para cuidar melhor do himenóptero. O pátio da escola começava logo na saída das salas de aula, era uma grande área aberta rodeada de árvores, e ao pé de cada árvore havia um banco. Colocou o inseto em cima de um dos bancos e percebeu que de seu abdômen saia a ponta de alguma coisa estranha e logo pensou: “Hum... algum outro inseto deve ter ficado furioso com a senhora abelha e lhe fincou um ferrão, então o que eu devo fazer é retira-lo!” E foi isso o que ele fez, para o azar da abelha. Atenta e cuidadosamente foi encostando o dedo na ponta do “ferrão”, e de súbito puxou-o. Mas o que ele puxou foi mais do que previra: saiu alguma coisa gosmenta, de quase 1cm, do corpo do inseto. O garoto não sabia que ao puxar o ferrão da abelha ele puxaria também todos os seus órgãos. Quando Deodor percebeu o que tinha feito quase caiu para trás. “Eu matei a pobre da abelha! Eu sou um assassino! Eu devia estar preso, isso sim...”. Nesse momento eu mesmo fiquei com muita pena do pequeno Deodor, afinal ele só queria ajudar a abelha.

          Vendo a cena do crime, o que restou a Deodor foi fazer um enterro digno para a vítima. Ele foi até o armário que estava no fundo da sala de aula e lá procurou alguma caixinha para carregar o inseto. Foi difícil achar, pois o armário era uma bagunça, cheio de lápis, canetas, tintas, papéis, livros, desenhos, tudo o que é necessário para uma professora distrair uma bando de crianças por uma aula. Mas Deodor encontrou o que queria: uma caixa de fósforos. “Perfeito!”. Foi até o pátio, onde estava a abelha, e a colocou dentro da caixa, quando ouviu o toque do fim do intervalo. Já de volta à sala de aula, continuou a não prestar atenção à professora, pois ainda pensava no crime que tinha cometido. Quando o fim da aula chegou foi um alívio, assim ele poderia finalmente preparar o funeral ao chegar em casa. Da escola para sua casa, só contarei que ele ficou muito quieto, pois sabia que um momento importante estava por vir.

          Uma pausa. Deodor tinha sete anos, e era  sua primeira experiência com a morte, e ele ainda pensava que era o assassino da história. Ele podia ser teimoso e desobediente com seus pais (e era) , mas uma coisa que não suportava era ver alguém, ou alguma coisa, sofrendo e não poder ajudar, e quando não podia, lamentava muito por isso. Uma vez deu de presente para si mesmo dois gatinhos abandonados perto de sua casa, ato que sua mãe “adorou”. Já perdi a conta de quantos passarinhos caídos do ninho ele cuidou. Todos morreram, é claro, menos os já crescidos que só estavam com algum machucado.

          Mas voltemos à história, a primeira das demais. Quando Deodor chegou em casa foi logo trocando de roupa. Pegou a caixinha que continha a abelha, uma colher e dois gravetos e se dirigiu aos fundos da casa para procurar um lugar que servisse de cemitério. O gramado era grande, mas não o suficiente para Deodor, que depois de uns doze minutos achou o lugar ideal. Com a colher, começou a cavar um buraco, cerca de 15cm de profundidade. Abriu a caixinha e viu o corpo imóvel da abelha, foi quando pensou em algo especial para dar à senhora abelha. O garoto saiu correndo em direção à casa, entrou no quarto de sua mãe e abriu a gaveta que continha as jóias, escolheu a mais bonita e guardou-a. Voltou correndo ao local do enterro e, sem mais delongas, colocou cuidadosamente o inseto no buraco, junto com o objeto furtado de sua mãe. “Isso, senhora abelha, é um presente para mostrar o quanto eu sinto pelo o que eu fiz, espero que faça bom proveito com ele aí no céu das abelhas”. Os gravetos ele iria usar para cravá-los no chão, para marcar onde havia enterrado o corpo do inseto. Mas (infelizmente) mudou de ideia, pois pensou que se soubesse onde era o local iria vir sempre ali. Um pouco mais conformado, agora que tinha feito um enterro digno para à abelha, Deodor foi recolher-se em sua casa. No dia seguinte o garoto já não lembrava mais o local do enterro, e ele nem tentou procurar. Dois dias depois foi acordado subitamente por sua mãe: “Deodor! Você viu onde está a aliança de sua irmã?! O casamento é daquia a poucas horas!”
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Post scriptum: Não vou contar que, daquele dia em diante, Deodor conhece cada centímetro quadrado de todo o gramado, se alguém perguntasse onde ficava o formigueiro mais alto, ele saberia responder.
Vanderlei Amaral

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

UM MERGULHO INESPERADO

Foi em um dia de remo, uma terça ou quinta, não lembro, no final do ano de 2008. Naquela época íamos frequentemente à Ilha do Pavão, pois praticávamos remo pelo CMPA. Após almoçarmos no rancho do colégio, eu e o Ezequiel fomos até o apartamento do Gnv’s para esperarmos a hora de pegar a barca. Segundo o Gonçalves, quinze minutos bastariam para chegarmos até o cais. O problema é que, como sempre, saíamos dez minutos antes da saída da barca. Quem estava na rua só podia ver três alunos do Colégio Militar subindo e descendo a Borges de Medeiros desesperadamente. Tínhamos até um plano para conseguirmos chegar a tempo: como a primeira parte da Borges era uma subida até um viaduto que eu não sei o nome, e a segunda parte é uma descida até a Av. Mauá, nós primeiro subiríamos caminhando o mais rápido que pudéssemos e depois desceríamos correndo o mais rápido que conseguíssemos. Não foram poucas as vezes que eu parei no meio do caminho, mesmo o relógio estando contra nós, para comprar sorvete. Não, é claro, sem a advertência de meus companheiros. Mas é que aquele dia estava realmente muito quente. Quando finalmente chegamos ao cais do Grêmio Náutico União a barca já havia apitado, e quando passamos pela roleta ela estava já se deslocando em direção à Ilha. Mas para a nossa sorte o... motorista, sei lá, parou a encostou no outro lado do cais, então conseguimos pular do cais para a parte de trás da barca, que é aberta. Lá estava o Ciriaco e depois de doze minutos chegamos à Ilha do Pavão.


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Fomos direto para o vestiário nos trocar e lá passamos um certo tempo “avacalhando”. Eu e o Ciriaco já remávamos o skiff (um tipo de barco que o Ezequiel sonha até hoje em remá-lo), e os outros ainda estavam no canoe (barco para iniciantes, que o Ezequiel, em outro momento eu explico como, já virou). Nesse dia, porém, todos remamos o mesmo barco, o canoe. Queríamos uma tarde para nos divertir remando, para brincarmos na água e para isso nada melhor do que esse barco. Quando eu digo brincar, é brincar mesmo. Nós batemos com os barcos um nos outros; remamos com apenas um remo; ficamos de pé no barco; remamos no sentido contrário; fizemos largadinhas (corridas de barco) ; se existissem leis de tráfego de barcos na raia com certeza estaríamos encrencados. Fizemos tudo isso com o Ezequiel tirando fotos com a sua máquina fotográfica. Depois de “remarmos” encostamos os barcos na rampa e desembarcamos. O dia, lembro-me bem, estava muito quente e por isso eu dei um mergulho na água, enquanto os outros ficavam tirando algumas fotos. Subi de volta à rampa e o que aconteceu a seguir eu jamais esquecerei (é lógico, é só ler esse texto, dã...). O Ciriaco estava com a máquina na mão e o Ezequiel e o Gnv’s estavam parados em volta. “Conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz” (Esperando por Mim-Legião Urbana).


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A parte engraçada da história vem agora. O Ciriaco, que estava com a câmera do Ezequiel na mão, quis fazer uma brincadeira de dar um susto no Ezequiel tocando a câmera para ele, mas segurando a cordinha da máquina. Ele fez isso, a câmera não. Quando ele tocou a câmera ela ficou, por uma fração de segundo, suspensa no ar, e a tensão foi demais para a corda: ela se partiu. Aconteceu em câmera lenta, a máquina caindo lentamente em direção ao chão, mas ela bateu no barco, quicou e... caiu na água. Pois é. Por um momento todos ficamos parados, olhando para as ondas formadas pela queda da máquina, que até há pouco estava nas mãos do Ciriaco. Ninguém sabia o que fazer. Isso aconteceu em apenas um ou dois segundos até que eu, que já estava molhado, saí correndo e pulei na água. Nesse momento gastei toda sorte do ano (droga!), pois quando encostei a mão no chão senti a câmera com meus dedos e rapidamente a tirei da água. No total, creio que ela ficou seis segundos submersa. Quando eu voltei para a rampa, o mais engraçado foi ver a cara do Ciriaco e do Ezequiel, eles ainda não acreditavam no que acabara de acontecer. E não era para menos, um tocou ela na água e o outro era o dono. Esse foi o barco que a máquina bateu antes de cair na água.
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Testamos a câmera e ela não funcionou. Ela estava muito suja de barro, mas parecia não ter entrado água dentro, afinal, ela não ficou muito tempo submersa. O Ciriaco tentava se explicar e o Ezequiel, rindo, xingava ele, aliás, todos nós estávamos nos matando de rir. O Gonçalves disse que levaria ela para casa e tentaria consertar. O Ezequiel depositou toda a sua fé no Gonçalves, ou ele teria de explicar ao seu pai o acontecimento, e creio que isso não seria bom (espero que o pai do Ezequiel não leia isso) . Guardamos os barcos e fomos nos trocar no vestiário e todos ainda continuavam rindo, menos o dono da vítima da história. Só restava o Gnv’s conseguir consertá-la. Na segunda-feira seguinte eis que as notícias eram boas. Não é que ele conseguiu mesmo consertar a tal máquina? Tiramos muitas fotos com ela depois daquele dia e muitas delas até já apareceram aqui no blog. A única consequência é que o Ciriaco, desde então, não pode mais encostar na cordinha de nenhum objeto que esteja a menos de cinquenta metros de qualquer substância líquida.


Vanderlei Amaral