quarta-feira, 30 de março de 2011

MORO NUM PAÍS TROPICAL

          Mudei. Mudei a maneira de me referir aos meus próprios textos. Antes eu os chamava de “postagens”, termo totalmente vinculado à Internet, ou aos blogs. Esse termo deixou de ser diferente para se tornar comum. Hoje em dia até o Twitter começou a ser chamado de microblog. Algo está errado: um blog é feito de postagens, e postagens são muito mais do que apenas 140 caracteres. Não interessa. O fato é que mudei a maneira de me referir aos meus textos, de postagens para “crônicas”. Mas isso não tem nada a ver com o que eu ia escrever na minha crônica (ficou legal chamar assim).
          Por que as músicas brasileiras, pelo menos as que ficam famosas repentinamente, estão cada vez piores? Quando eu digo que as músicas estão ficando piores, eu me refiro às músicas de “modinha”, como a ridícula “Rebolation” ou a irritante “Minha Mulher Não Deixa Não”. Existem outras, mas essas são mais atuais, e as que eu menos suporto. Como é possível, que com apenas uma frase ridícula, alguém consiga conquistar milhões de pessoas? Como alguém consegue inventar, ao mesmo tempo, uma nova língua e uma letra idiota, como a segunda música mencionada? A resposta é muito simples: os brasileiros não leem. Não há o habito, muito menos a cobrança, de leitura nas escolas públicas, que é onde estudam (quando estudam) a maioria dos brasileiros. Isso acarreta nos analfabetos funcionais, que são pessoas que não entendem absolutamente nada do que leem ou escrevem.
          A primeira frase da música “Minha Mulher Não Deixa Não”, “Ei! Tu quer beber?”, foi feita por um analfabeto funcional, pois o autor, com certeza, não prestou atenção às aulas de Português, onde deveria ter aprendido que a conjugação do verbo “querer” na 2° pessoa do singular é “queres”. E o que ele faz? Espalha a burrice para 14 milhões de outros analfabetos (segundo dados da Ipea, de 12/2010).
          E a música “Rebolation”? Que... Coisa... Mais... Ridícula. Quando ouvi ela pela primeira vez no rádio, eu dei uns tapas no aparelho para verificar se a música não tinha trancado, pois eu não aguentava mais ouvir aquela frase...eu não vou escrevê-la. Por que ele não canta “vai ler alguma coisa, sa, alguma coisa”? Pensando bem, acho que os ouvintes não entenderiam. Falta de livros para serem lidos não é o problema. Temos uma das literaturas mais ricas do mundo, e também grandes autores, como Machado de Assis, José de Alencar, Cecília Meireles, Érico Verissimo, Mario Quintana, Moacyr Scliar, entre outros. Há também um paradoxo: no Brasil, os livros são caros porque os brasileiros não leem, e os brasileiros não leem porque os livros são caros. Mas, caso fossem baratos, duvido que eles leriam. Engraçado, não?
          Conclusão: os brasileiros não aprendem. Vamos aos dados. O Brasil é o terceiro país mais desigual da América Latina (07/2010), segundo o índice Gini, que é o mais usado para medir a desigualdade de renda. Quanto mais perto de 1, pior. O Brasil tem índice 0,56 e o Haiti, só para se ter uma ideia, tem 0,59. A educação seria uma das soluções para acabar com tanta desigualdade, uma educação pública de qualidade é essencial. Mas infelizmente, isso não existe, e vai demorar muito para que exista. Por que as faculdades públicas são cheias de alunos de classe média para cima? Porque são eles que têm condições de pagar pelos melhores colégios e cursinhos. Como já foi dito, o Brasil tem 14 milhões de analfabetos, em geral, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, em 12/2010). O Japão, após a 2° Guerra Mundial, tomou como uma das medidas investir na educação, atitude que o colocou entre os mais ricos do mundo, atualmente. Não foi só o Japão que fez isso, eu só o citei por causa da situação que os japoneses estão passando, e ainda assim mostram ter condições de se reerguer. Mas o Brasil, meu amigo, é uma “criança”, e ainda não aprendeu com os “grandes”. A explicação para isso, grosso modo, é que vivemos em um país oligárquico. Apenas 5% da população pertencem à classe “A”, e mesmo assim, são eles os que “governam” (não era bem essa palavra). Para se dar bem, ou você nasce em uma família que tenha uma boa condição financeira, ou pare de ler agora e comece a lutar para chegar aos “poucos” que se dão bem nesse país. Felizmente, é possível viver bem, sem fazer parte dessa oligarquia. Mas é preciso muito esforço, dedicação e estudo.
          Só vamos avançar, quando o Governo abrir os olhos, e tomara que o faça.


fontes:http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/07/brasil-permanece-um-dos-mais-desiguais-do-mundo-apesar-de-progresso-diz-onu.html
http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/12/analfabetismo-cai-no-brasil-mas-aumenta-em-cinco-estados-diz-ipea.html
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/brasil-e-o-terceiro-pais-com-a-pior-desigualdade

Vanderlei Amaral