Foi em um dia de remo, uma terça ou quinta, não lembro, no final do ano de 2008. Naquela época íamos frequentemente à Ilha do Pavão, pois praticávamos remo pelo CMPA. Após almoçarmos no rancho do colégio, eu e o Ezequiel fomos até o apartamento do Gnv’s para esperarmos a hora de pegar a barca. Segundo o Gonçalves, quinze minutos bastariam para chegarmos até o cais. O problema é que, como sempre, saíamos dez minutos antes da saída da barca. Quem estava na rua só podia ver três alunos do Colégio Militar subindo e descendo a Borges de Medeiros desesperadamente. Tínhamos até um plano para conseguirmos chegar a tempo: como a primeira parte da Borges era uma subida até um viaduto que eu não sei o nome, e a segunda parte é uma descida até a Av. Mauá, nós primeiro subiríamos caminhando o mais rápido que pudéssemos e depois desceríamos correndo o mais rápido que conseguíssemos. Não foram poucas as vezes que eu parei no meio do caminho, mesmo o relógio estando contra nós, para comprar sorvete. Não, é claro, sem a advertência de meus companheiros. Mas é que aquele dia estava realmente muito quente. Quando finalmente chegamos ao cais do Grêmio Náutico União a barca já havia apitado, e quando passamos pela roleta ela estava já se deslocando em direção à Ilha. Mas para a nossa sorte o... motorista, sei lá, parou a encostou no outro lado do cais, então conseguimos pular do cais para a parte de trás da barca, que é aberta. Lá estava o Ciriaco e depois de doze minutos chegamos à Ilha do Pavão.
Fomos direto para o vestiário nos trocar e lá passamos um certo tempo “avacalhando”. Eu e o Ciriaco já remávamos o skiff (um tipo de barco que o Ezequiel sonha até hoje em remá-lo), e os outros ainda estavam no canoe (barco para iniciantes, que o Ezequiel, em outro momento eu explico como, já virou). Nesse dia, porém, todos remamos o mesmo barco, o canoe. Queríamos uma tarde para nos divertir remando, para brincarmos na água e para isso nada melhor do que esse barco. Quando eu digo brincar, é brincar mesmo. Nós batemos com os barcos um nos outros; remamos com apenas um remo; ficamos de pé no barco; remamos no sentido contrário; fizemos largadinhas (corridas de barco) ; se existissem leis de tráfego de barcos na raia com certeza estaríamos encrencados. Fizemos tudo isso com o Ezequiel tirando fotos com a sua máquina fotográfica. Depois de “remarmos” encostamos os barcos na rampa e desembarcamos. O dia, lembro-me bem, estava muito quente e por isso eu dei um mergulho na água, enquanto os outros ficavam tirando algumas fotos. Subi de volta à rampa e o que aconteceu a seguir eu jamais esquecerei (é lógico, é só ler esse texto, dã...). O Ciriaco estava com a máquina na mão e o Ezequiel e o Gnv’s estavam parados em volta. “Conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz” (Esperando por Mim-Legião Urbana).
A parte engraçada da história vem agora. O Ciriaco, que estava com a câmera do Ezequiel na mão, quis fazer uma brincadeira de dar um susto no Ezequiel tocando a câmera para ele, mas segurando a cordinha da máquina. Ele fez isso, a câmera não. Quando ele tocou a câmera ela ficou, por uma fração de segundo, suspensa no ar, e a tensão foi demais para a corda: ela se partiu. Aconteceu em câmera lenta, a máquina caindo lentamente em direção ao chão, mas ela bateu no barco, quicou e... caiu na água. Pois é. Por um momento todos ficamos parados, olhando para as ondas formadas pela queda da máquina, que até há pouco estava nas mãos do Ciriaco. Ninguém sabia o que fazer. Isso aconteceu em apenas um ou dois segundos até que eu, que já estava molhado, saí correndo e pulei na água. Nesse momento gastei toda sorte do ano (droga!), pois quando encostei a mão no chão senti a câmera com meus dedos e rapidamente a tirei da água. No total, creio que ela ficou seis segundos submersa. Quando eu voltei para a rampa, o mais engraçado foi ver a cara do Ciriaco e do Ezequiel, eles ainda não acreditavam no que acabara de acontecer. E não era para menos, um tocou ela na água e o outro era o dono. Esse foi o barco que a máquina bateu antes de cair na água.
Testamos a câmera e ela não funcionou. Ela estava muito suja de barro, mas parecia não ter entrado água dentro, afinal, ela não ficou muito tempo submersa. O Ciriaco tentava se explicar e o Ezequiel, rindo, xingava ele, aliás, todos nós estávamos nos matando de rir. O Gonçalves disse que levaria ela para casa e tentaria consertar. O Ezequiel depositou toda a sua fé no Gonçalves, ou ele teria de explicar ao seu pai o acontecimento, e creio que isso não seria bom (espero que o pai do Ezequiel não leia isso) . Guardamos os barcos e fomos nos trocar no vestiário e todos ainda continuavam rindo, menos o dono da vítima da história. Só restava o Gnv’s conseguir consertá-la. Na segunda-feira seguinte eis que as notícias eram boas. Não é que ele conseguiu mesmo consertar a tal máquina? Tiramos muitas fotos com ela depois daquele dia e muitas delas até já apareceram aqui no blog. A única consequência é que o Ciriaco, desde então, não pode mais encostar na cordinha de nenhum objeto que esteja a menos de cinquenta metros de qualquer substância líquida.
Vanderlei Amaral