sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Ilex paraguariensis às 6h

          Ele estava parado no galho mais alto da árvore. Voou cerca de um metro acima, deu uma volta e voltou ao lugar de repouso. Não havia vento, nem mesmo outros animais em volta. As folhas mal se mexiam. A pergunta feita por mim naquele momento foi: por que o pássaro fez aquilo, sem nenhum motivo aparente?
          Bem, a resposta pode ser dada com a própria pergunta. Por motivo algum. Ou pelo mais simples motivo: porque ele podia, afinal era um pássaro e pássaros voam. Essa semana assisti a um vídeo no qual um conhecido físico respondia à pergunta de um garoto de 6 anos e três quartos de idade. A pergunta foi "qual o sentido da vida?". Sabiamente o físico respondeu que o sentido da vida é algo que nós mesmos criamos. Um dia em que não aprendemos algo a mais do dia anterior é um dia desperdiçado, o que é realmente verdade; afinal, nunca se sabe quando será o último. Não sabendo disto, o pássaro alçou voo não para fugir de um predador nem sequer para buscar algum alimento. Simplesmente por voar.



          O maior sonho de um garoto, certa vez, era patinar. Seu pai, sabendo disso, comprou o melhor e mais bonito par de patins para o seu filho. O garoto não soube expressar tamanha felicidade ao ver o presente, contou a todos os seus amigos sobre o ocorrido e ficaram igualmente felizes. Porém, ele não queria estragar os patins, pois gostava muito do presente e o que sempre quis foi justamente patinar. Resolveu então guardá-los para uma situação especial, enquanto seus amigos brincavam com seus próprios patins, que não chegavam nem perto da beleza e da qualidade do que  ganhara de seu pai.
          Passado algum tempo os patins continuavam guardados, pois o garoto não encontrara a situação certa para usá-los. Até que um dia, cansado de esperar, ele finalmente resolve experimentar e sentir a tão esperada sensação de usar o melhor par de patins que existia. Porém, ao tentar calçar o par ele se deu conta de que havia crescido demais e já não lhe servia. Não pode evitar de lembrar dos momentos que viu seus amigos se divertindo enquanto ele apenas assistia, e percebeu o terrível erro que cometera.
          (Essa história eu li certa vez e reescrevi com minhas palavras).



          Todos deveriam encontrar, ao menos uma vez na vida, o garoto loiro com vestes de príncipe. Para lembrar as pessoas a fazerem as perguntas certas, a querer as coisas certas, sem medo de voar nem mesmo de calçar os patins. As palavras confundem, até mesmo essas. Mas no fim, isso nem mesmo importa. A raposa já disse, só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
       
          A pergunta de agora é: o carneiro terá ou não comido a flor?



Vanderlei Amaral